Gabriel,<br>Fico muito feliz de receber suas perguntas :-D<br><br><br>Prefiro responder primeiro a 2.a questão.<br><br><div style="margin-left: 40px;">2 - Por que uma pessoa que não entende nada de informática aderiria ao<br>
software livre? Ele não está de certa forma restrito a uma comunidade<br>relativamnete pequena ( comunidade acadêmica, pequenas empresas, etc ) ? Um<br>usuário comum não pode mudar o software para que atenda às suas<br>necessidades. Por que ele teria que usar um sistema operacional complicado,
<br>softwares complicados e que não atendem às suas demandas ?<br></div><br><br><span style="font-weight: bold;"> Por que uma pessoa que não entende nada de informática aderiria ao</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">
software livre?</span><br><br>Resposta rápida:<br><br>Por que é bacana! Por que é divertido. Por que é útil. Por que é inovador. Por que em geral é mais confiável. <br><br>Resposta longa:<br><br>A resposta a esta pergunta tem um embasamento pragmático, de ordem prática.
<br>Imagino que você, assim como muitos outros internautas já preferem usar o browser Mozilla Firefox. (se vc ainda não conhece, vale a pena experimentar) Veja que a maioria absoluta das pessoas que usam o Firefox não sabe programar. Isso responde em parte sua questão sobre a utilizade do software livre (de código livre) mesmo para aqueles que não têm condições de lidar com código. Existem zilhares de outros exemplos de softwares livres que, por terem seu código aberto, passam pelo processo produtivo mais dinâmico que comumente resulta em melhor qualidade. Além disso, há toda a inventividade que brota desse caldeirão de idéias que é o desenvolvimento de software baseado na abertura à participação de qualquer pessoa, seja no desenvolvimento do código em si, ou seja nas discussões, feedback aos desenvolvedores, "bug reports", "feature requests", etc.
<br><br>Enquanto isso, o Internet Explorer, principal concorrente (ainda o browser predominante no mercado) nitidamente perdeu a liderança no processo de inovação. As grandes novidades da sua nova versão (IE 7) são claras cópias de funcionalidades que já existiam há anos no Firefox.
<br><br>O desktop GNU/Linux, apesar de ser o caso mais famoso de software livre, ainda pode não ser tão exemplar como o Firefox, mas há fortes indicativos de que será (de fato já está sendo) cada vez mais fácil de se utilizar até mesmo por leigos. E, é claro, com vantagens análogas às que eu descrevi no caso do browser acima. Veja as inovações visuais do projeto beryl, por exemplo.
<br><br><span style="font-weight: bold;">Um usuário comum não pode mudar o software para que atenda às suas</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">
necessidades. Por que ele teria que usar um sistema operacional complicado,</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">
softwares complicados e que não atendem às suas demandas ?</span><br><br>Muitas vezes, os softwares não atendem nossas demandas, é verdade. Mas, então vamos pensar bem nos 2 casos possíveis: <br><br>a) um software proprietário não atende as suas demandas
<br>b) um software livre não atende as suas demandas<br><br>Software é conhecimento.<br><br>Enquanto no caso do proprietário vc fica refém do fornecedor de software, pois precisa implorar para que ele, detentor do conhecimento, aprimore o aplicativo para que se adeque às suas necessidades, no caso do software livre qualquer pessoa pode tomar a iniciativa de estudá-lo e aprimorá-lo como bem entender. Obviamente nem todo mundo tem condições de fazer isso por si só, mas pode-se pagar para que alguém o faça para você.
<br><br>Neste ponto você deve estar pensando "poxa! mas se no fim os leigos precisam pagar pra alguém fazer, então acaba sendo a mesma coisa que pagar para empresas como a microsoft, por exemplo..." Mas, não. Não é a mesa coisa, por que no caso do software livre você lida com desenvolvedores de software livre comercial (sob demanda) em um mercado de livre concorrência. Já quando o software é proprietário, há apenas um player no mercado capaz de fazer o aprimoramento no software em questão. Sendo assim há até mesmo a possibilidade de o fornecedor da solução proprietária simplesmente negar-se a prestar-lhe o serviço de customização de software independentemente do quanto você esteja disposto a pagar.
<br><br>Ou seja, software livre significa autonomia sobre os rumos da tecnologia adotada. Até mesmo para aqueles que apenas a consomem.<br><br>
<span style="font-weight: bold;">Ele não está de certa forma restrito a uma comunidade</span><br style="font-weight: bold;">
<span style="font-weight: bold;">
relativamnete pequena ( comunidade acadêmica, pequenas empresas, etc ) ?</span><br style="font-weight: bold;">
<br>
A comunidade acadêmica é onde estão as pessoas que mais provavelmente vão ajudar a
disseminar mais os ideais do software livre e aquelas que têm maior probablilidade de
participar no desenvolvimento das tecnologias livres. Mas isso não
significa que o software livre não tenha potencial de abrangência
global, inclusive para a comunidade leiga. Quanto a empresas, não são
só as pequenas que se beneficiam do software livre. Temos hoje em dia
muitas empresas de grande porte adotando soluções livres para suas
necessidades de software e de independência tecnológica.<br>
<br><span style="font-weight: bold;">1 - Por que não usar software proprietário? Se eu tenho que pagar pela</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">tecnologia em todos os outros setores, por que não posso pagar por exemplo à
</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">Microsoft para que desenvolva tecnologia em softwares? O sotware livre não</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">seria um desestímulo à produção de tecnologia? Se eu tenho que pagar à Intel
</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">o processador que eu uso e pelo conhecimento que a empresa teve que gerar</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">para produzí-lo, por que não pagaria à uma empresa para que produza cada vez
</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">softwares melhores, se eles me satisfazem? Você pode argumentar que o</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">mercado de softwares no mundo é altamente monopolizado pela Microsoft. Mas
</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">esse é um problema econômico, uma falha de mercado, que pode ser resolvido</span><br style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;">criando-se incentivos a novas empresas, etc etc.
</span><br><br>A resposta para a 1.a pergunta já começou a ser dada, sem querer, ao responder a primeira (e eu suspeitava disso quando optei por responder primeiro a segunda :-) !!!)<br><br>Enquanto as respostas anteriores tiveram um forte embasamento de pragmatismo, a pergunta 1 leva a uma resposta mais embasada em razões de cunho social.
<br><br><span style="font-weight: bold;">Por que não usar software proprietário?</span><br><br>Por que, como já foi dito antes, software propietário é software no qual o conhecimento é negado às pessoas como forma de exercer poder sobre elas. Mas é um conhecimento distinto daquele existente na fabricação de chips, pois, o conhecimento do software é desvinculado da matéria e, portanto, passível de ser assimilado e efetivado pelos indivíduos a custo marginal zero (não fosse pela sua rivalização, por parte dos produtores de software proprietário)
<br><br>Aceitar software proprietário equivale a aceitar controle sobre idéias e, por tabela, sobre pessoas. Significa aceitar um modelo que cataliza de 2 comportamentos, ao menos um: ou o comportamento egoísta, ou o comportamento de indiferença perante as leis.
<br><br>Pra explicar melhor isso: quando alguém lhe provê um software proprietário ele de fato está dizendo algo do tipo "ei! eu tenho um software bacana que vai ser muito útil pra você. Mas você vai ter que aceitar a condição de não dá-lo pra ninguém. É claro que isso não vai ser um problema pra vc, dado que o programa é bem bacana. Você não quer mesmo esse programa...?"
<br><br>Como toda essa coisa tem embasamento jurídico, caso vc resolva se aproveitar do "colega" acima fazendo cópias não autorizadas do software dele, vc estará de fato passando por cima dos tais mecanismos legais, induzindo, portanto, um maior senso de indiferença quanto à legislação. Banaliza-se a infração.
<br><br>Acredito que os dois possíveis comportamentos perante o software proprietário: (1) ser egoísta e de fato não compartilhar com seus pares ou (2) ser "esperto" e burlar a legislação vigente; precisam ser evitados pois acarretam em sérias implicações em nosso senso ético e nosso comportamento perante a sociedade.
<br><br><span style="font-weight: bold;">por que não posso pagar por exemplo à</span><br style="font-weight: bold;">
<span style="font-weight: bold;">Microsoft para que desenvolva tecnologia em softwares?<br><br></span>Na verdade, você pode pagar sim. Não há nada de errado em pagar por algum produto. O problema está em outra dimensão, não na financeira. De fato, os produtores de conhecimento em TI têm altos investimentos em pesquisa e, portanto, têm todo o direito de cobrarem o quanto acharem que é justo cobrarem para compensar seus investimentos. Entretanto, considerando tudo o que já foi dito neste email, acredito que estas práticas de produção de conhecimento proprietário cada vez mais (conforme as pessoas forem tomando consciencia dessas questões) se tornarão insustentáveis perante os modelos de produção colaborativa que começaram a se destacar nas 2 ou 3 últimas décadas, frequentemente mais eficientes em produção e mais preocupados com tais valores éticos e de acesso público ao conhecimento.
<br> <br><span style="font-weight: bold;">O sotware livre não</span><br style="font-weight: bold;">
<span style="font-weight: bold;">seria um desestímulo à produção de tecnologia?<br><br></span>Pelo contrário, pelo caráter de mercado aberto que tentei te explicar no começo do email o software livre acaba sendo terreno fértil para produção de inovações tecnológicas.
<br><span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br></span></span>Espero não ter sido muito enrolado nas minhas explicações. Caso você sinta falta de alguma explicação melhor sobre algum ponto onde você ache que a argumentação tenha ficado "furada" ou insuficiente de alguma forma, me dê chance de saber disso e tentar aprimorar o argumento.
<br><br>até logo, (e obrigado pela atenção, claro!)<br>Felipe "Juca" Sanches<br><br>PS: achei boas as suas perguntas, portanto, tomei a liberdade de copiar este email de resposta a algumas listas de emails relevantes.
<br><br>PS2: autorizo que a resposta deste email seja reproduzida à vontade (e inclusive modificada) bastando referenciar meu nome. Ou seja, "CreativeCommons Atribuição 3.0".<br><br><span style="font-weight: bold;">
<span style="font-weight: bold;"></span><br></span><br>