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Ana Maria Albuquerque anamalbuquerque72 en gmail.com
Mie Ene 8 17:50:32 UTC 2014


Olá Bruno,

Na verdade, o uso de softwares por pais para colocar regras e evitar um uso
abusivo deve nunca substituir o diálogo mas o complementar. Muito obrigada
pela sua resposta. Sempre aprendo algo de valioso nesta lista de discussão.
Autonomia é fundamental. Obrigada pela orientação, pois achei muito válido
os argumentos por você usado e que me auxiliam também a entender melhor o
posicionamento de alguns dos pais que entrevistei para  o livro. Valeu!

Abraços,
Ana Maria.


Em 7 de janeiro de 2014 15:41, Bruno Félix Rezende Ribeiro <
oitofelix en riseup.net> escreveu:

> Olá Ana.
>
> Aplaudo seu ativismo pelo software livre e a sua iniciativa de usá-lo na
> educação.  O uso de software livre em tal contexto é imprescindível para
> a formação de cidadãos que valorem sua própria liberdade e a
> solidariedade de sua comunidade, e que, portanto, compreendem a
> importância da construção de uma sociedade forte, capaz, independente e
> livre.
>
> No processo de aprendizado sobre o software livre e sua filosofia é
> importante entender os preceitos em que esta se baseia.  Em particular o
> imperativo de que o usuário deve ter o controle de sua própria
> computação.  Dentro dessa linha, eu gostaria de citá-la:
>
> > Lendo literatura especializada sobre uso compulsivo descobri que
> > existem alguns sofwares que auxiliam no tratamento no processo de
> > desintoxicação das tecnologias, ao desenvolver softwares que são
> > programados para que alguns dispositivos móveis se desliguem a partir
> > de um determinado horário, ou um dia ou mais dias.
>
> > Acredito que estas tecnologias são úteis para o estabelecimento de
> > regras no uso das tecnologias por jovens e seus familiares junto com
> > um acompanhamento psicológico.
>
> É importante salientar que tais tecnologias só seriam benéficas ao
> particular indivíduo envolvido se ele tiver o controle sobre os
> programas que executam no seu dispositivo de computação.  Portanto, tome
> como exemplo uma criança que usa um computador por período de tempo
> demasiadamente prolongado na visão dos pais. Antes de tudo, como essa
> criança está usando um computador é estritamente relevante que ela
> conheça sobre os seus direitos humanos digitais quanto às liberdades de
> uso, estudo, modificação e redistribuição de todo e qualquer programa
> que ela execute em tal computador (presumindo claro que ela usa
> unicamente software livre, pois do contrário isso seria um dano --- e
> não um benefício --- disfarçado de "inclusão digital").  Em tal contexto
> se torna óbvia a legítima habilidade da criança em configurar o
> computador para funcionar por quanto tempo e da maneira que ela quiser.
> Sendo assim, se forem utilizados programas que limitem o uso de um
> computador (que é o que você descreve), isso deve se dar com o
> consentimento explícito, e sob a demanda, do usuário em questão, a
> criança no caso. Do contrário estaria-se ferindo o mesmo princípio que é
> dever de todo bom cidadão defender: a liberdade do indivíduo na
> realização de sua própria informática.  É claro, que, provavelmente, a
> criança em questão optaria pelo uso irrestrito de seu dispositivo
> computacional, como ela já fazia até então, logo anulando os esforços de
> regulação pretendido pelos pais ou educadores.
>
> A situação se mostra, portanto, tanto paradoxa como contraditória:
>
> "Como posso eu limitar o uso que meu filho faz de seu computador, sem
> ferir a sua liberdade?  Como posso fazê-lo sem tomar o controle que ele
> tem, por direito humano, sobre suas próprias atividades realizadas em
> sua própria máquina?"
>
> A resposta imediata para isso é: você não pode.  Por definição, regular
> as ações que uma pessoa realiza dentro do âmbito de sua própria vida e
> que primariamente afetam a ela própria, é negar a essa pessoa a
> liberdade e autonomia, que ela tem direito a exercer, na execução de tal
> atividade.  Então, temos de optar exclusivamente entre dar o controle
> que o indivíduo (a criança no caso), merece --- e tem direito, como
> qualquer outro ser humano --- sobre sua informática; e negar tal
> liberdade exercendo o controle (um meio maléfico, diga-se de passagem),
> para fins supostamente benéficos de "desintoxicação".
>
> Como educadora, você tem o dever moral de garantir a integridade dos
> direitos e dignidade de seus educandos.  Logo, perceberá, que apesar de
> poder impor, ou sugerir que sejam impostas, sansões e controle, não deve
> fazê-lo; pelo bem deles próprios, para o seu bem e para o bem da
> formação da sociedade livre em que desejamos viver.
>
> No entanto, partindo do pressuposto que a alegada "intoxicação" digital
> é um problema, como podemos resolvê-lo?  Essa é uma ótima questão sobre
> a qual você e muitos outros psicólogos dedicam vidas de pesquisa.  A
> resposta pode ou não estar concernida no âmbito digital.  Se ela
> estiver, no entanto, certamente a resposta não é ensinar às crianças
> dependência, submissão ou autoritarismo, conceitos, maléficos estes, que
> derivam tanto do uso de software privativo quanto do estabelecimento de
> regras artificias --- normalmente não compreendidas pelos regulados a
> despeito da alegada sabedoria dos reguladores --- provenientes daqueles
> que se encontram em posição de exercer poder sobre outros indivíduos.
>
> Eu não sou um especialista em educação ou psicologia, mas acredito que a
> reposta pode estar inerentemente ligada a conscientização do indivíduo,
> que precisa entender por seu próprio meio e capacidade de julgamento,
> como melhorar e fazer um mundo melhor; discernir entre seus direitos e
> deveres; e sobre tudo, aprender o princípio da boa vontade.
>
> Por que você não começa ensinando (como talvez já deva estar fazendo)
> aos pais e crianças sobre a filosofia do software livre, e da cultura
> livre em geral?  Se você tiver sucesso certamente livrará não só as
> crianças, como também os pais, de práticas danosas como o uso de
> programas privativos ou de SaaSS (Serviço como um substituto de software
> --- do inglês "Service as a Software Substitute") que é um problema que
> pode ser ainda mais grave que o software privativo isoladamente.  Dessa
> maneira, as crianças (e os pais, também para dar o exemplo mas não só)
> irão parar, e também influenciar outras pessoas a pararem, de usar
> facebook (monstruoso mecanismo de monitoramento), Skype e Microsoft
> Windows.  Elas entenderão o valor da liberdade e privacidade que tanto
> precisamos nesse tempo que ambas são constantemente ameaçadas.  Talvez
> por si só, como efeito colateral, isso "cure" aquele "vício" que
> derivava de uma busca incessante e abusiva por auto-satisfação, pois as
> crianças (e os adultos!), irão perceber seu lugar de responsabilidade na
> sociedade quanto aos outros seres humanos com quem convivem,
> fortalecendo a solidariedade, cooperação e preservação de direitos.
>
> Se apesar de tudo, o "vício" não for "curado", certamente seus esforços
> não terão sido em vão, e claramente, uma contribuição significativa você
> terá feito à sociedade.
>
> Obrigado por todas as suas contribuições já realizadas ao movimento de
> software livre, como uma ativista e usuária, e que estas possam ser ainda
> maiores no futuro.
>
> Saudações.
>
> ---
>  ,= ,-_-. =.  Bruno Félix Rezende Ribeiro (oitofelix) [0x28D618AF]
> ((_/)o o(\_)) There is no system but GNU;
>  `-'(. .)`-'  Linux-libre is just one of its kernels;
>      \_/      All software should be free as in freedom;
>


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