[FSFLA] Proposta de plano de ação
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bio en brigadadigital.tec.br
Lun Sep 25 00:39:07 UTC 2023
Saudações aos ativistas do software livre.
Venho por meio desta comunicação me apresentar à FSFLA e compartilhar um plano de ação que envolve o software livre para apreciação do grupo.
Na infância e juventude fiquei interessado pelas tecnologias da informação e ainda no ensino médio, na primeira metade dos anos 2000, passei a usar o GNU/Linux no meu computador pessoal. Mantive o sistema operacional e um pequeno nível de estudo enquanto cursava Ciências Sociais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil. Durante a formação me interessei pela teoria marxista e me engajei no trabalho de base social participando do núcleo de mediação comunitária do Aglomerado de favelas da Serra coordenado pelo Programa de Pesquisa e Extensão Pólos de Cidadania. Nesse período, realizei atividades com militantes políticos e organizações sociais vinculados aos trabalhadores. Ao final, licenciado, passei a atuar como professor de Sociologia de educação básica da rede pública de ensino do Estado. Boa parte da minha vida estive dedicado ao desenvolvimento social dos trabalhadores.
Observando a "Primavera Árabe" ocorrida no Oriente Médio e Norte da África, as "Jornadas de Junho" e o golpe de Estado ocorridos no Brasil em 2013 e 2016, respectivamente, bem como os vazamentos realizados por Edward Snowden, ex-agente da NSA, me interessei pela questão da interferência proprietária das tecnologias da informação e comunicação (TIC's) nesses processos, seja de maneira direta ou através de agências de segurança dos países centrais do capitalismo, com o objetivo de recompor a extração de valor em países periféricos.
A minha hipótese central é que a expansão das TIC's proprietárias nos países periféricos possibilitaram a extração de valor de informações privilegiadas do conjunto da população e de indivíduos específicos, estratégicos para coordenação da estrutura social, bem como a formação de redes para o fortalecimento de facções políticas e sociais que defendem a flexibilização econômica e a abertura de mercado, promovendo a redução do orçamento estatal em políticas sociais e a flexibilização das relações de trabalho. A remuneração por produtividade, sem direitos trabalhistas, a terceirização de parte dos meios de produção e o desemprego estrutural ampliam a extração de valor e colocam em risco a sobrevivência dos trabalhadores.
A partir de 2018, autonomamente, comecei a estudar as TIC's com mais profundidade para entendê-las na prática. Lendo manuais e fazendo laboratórios, aprendi a implementar um conjunto de tecnologias disponíveis à classe trabalhadora e concluí ser factível a hipótese de extração da valor da informação no âmbito do controle político e ideológico.
A relação entre o desenvolvimento das TIC's e o conflito de classes ficou evidente, o controle proprietário das TIC's e a extração de valor da informação como estratégia de exploração.
Existe um problema real, objetivo: as TIC's proprietárias. Sua aplicação de massa, no trabalhador comum, nos militantes de base e dirigentes de movimentos sociais e partidários de trabalhadores, todos, em boa medida, alimentam esse sistema de informação de controle proprietário armazenando seus contatos, mensagens, contratos, cursos de formação, agenda de atividades, rotas e etc.
Se o problema é o controle proprietário, a solução passa por substituir as TIC's proprietárias por outras livres desse controle. O software livre oferece as melhores condições de emancipação tecnológica para a classe trabalhadora. As liberdades do usuário defendidas pelo movimento de software livre podem minimizar gradualmente a estrutura de controle, parte da estrutura de exploração.
Em síntese, a ideia é conjugar marxismo com software livre, posicionando o SL como ferramenta de emancipação da classe trabalhadora no desenvolvimento do conflito de classes.
Inicialmente, sugerimos como marco teórico marxista:
- Teoria da exploração:
- mais-valia
- classes sociais
- conflito de classes
- fetiche da mercadoria (consumismo)
- Imperialismo
- Teoria da dependência
- Ideologia
- hegemonia
- contra-hegemonia
- Indústria cultural
- cultural de massa
- meios de comunicação de massa
- Organização de classe
- Partidos
- Movimentos sociais
e, como marco teórico de TIC's livres:
- FSF
- licenças
- descentralização
- federado (SaaS) e distribuído
- Movimento de software livre
Precisamos de mais indicações de referenciais teóricos do software livre para avançar com a reflexão.
Da teoria à prática social, pretendo construir uma organização política (BRIGADA DIGITAL) de trabalhadores com formação em tecnologia e/ou marxismo cujo objetivo seja implementar TIC's livres para a classe trabalhadora. Será uma organização com registro jurídico de associação sem fins lucrativos.
A ideia é comprar dispositivos usados, fazer a adaptação necessária e implementar as TIC's livres para trabalhadores, militantes e suas organizações, oferecendo alternativas livres. Ademais, capacitar os militantes para usar tais tecnologias e até mesmo fazer a implementação e difundir a experiência da Brigada Digital.
Inicialmente, a Brigada terá condição de implementar Gnuboot, Trisquel GNU/Linux-Libre, LibreCMC GNU/Linux-Libre e Replicant. Então, faremos a aquisição dos dispositivos usados que são suportados, bem como a adaptação e manutenção e, por fim, a implementação desses sistemas. Também faremos a implementação de serviços auto-hospedados para a Brigada Digital e para outras organizações. Além disso, com o intuito de formentar a autonomia e o empoderamento de outras organizações, propomos a implementação auto-hospedada, até mesmo no sentido de formar novas Brigadas Digitais. A estrutura de serviços será descentralizada distribuída e federada, dando preferência para as tecnologias distribuídas. A saber: e-mail, webblog, mensageria, agenda e calendário, conferência, office e vídeo.
Contudo, encontramos alguns limites desse conjunto quanto se trata da implementação de serviços, visto que Gnuboot é suportado apenas em dualcore com máximo de 8GB de ram. A ideia é oferecer uma linha provisória, aliança tática, com o open source. Provisória porque compreendemos o limite da tecnologia open source para nosso objetivo. A linha terá Libreboot (sem atualização do microcódigo) em HP 8200 elite SFF, pois suporta processadores octacore e 32GB de ram, para oferecer serviços.
Pensando também que algumas atividades demandam maior processamento, então ofereceremos notebooks e torres quadcore/octacore com Libreboot (sem atualização do microcódigo) para estação de trabalho.
Também encontramos limites graves na capacidade de processamento dos smartphones que suportam Replicant, quadcore de 1.4GHz e 1GB de ram. Sendo assim, também implementaremos Lineage, mas com uma advertência grave para a segurança por usar extensivamente blobs proprietários. Acreditamos que para atividades poucos sensíveis não seja tão arriscado sua utilização.
Em resumo, a Brigada Digital tem condições de começar suas atividades implementando:
- Sistemas livres:
- Bios
- Gnuboot
- Sistema Operacional
- Trisquel GNU/Linux-Libre
- LibreCMC GNU/Linux-Libre
- Replicant
- Sistemas Open Source:
- Bios
- Libreboot
- Sistema Operacional
- Lineage
- Dispositivos:
- Notebooks (x86_64)
- Gnuboot e Trisquel GNU/Linux-Libre
- Notebooks e Torres (x86_64)
- Libreboot e Trisquel GNU/Linux-Libre
- Roteadores
- LibreCMC GNU/Linux-Libre
- Smartphones
- Replicant
- Lineage
- Serviços:
- Descentralizados
- Distribuídos
- Scuttlebut
- Jami
- Tox
- DHT
- Federados
- Webblog (wordpress)
- E-mail (postfix/dovecot)
- Rede Social de microblog (Mastodon)
- Agenda e Calendário (Radicale)
- Jabber/Xmpp (ejabberd/prosody/coturn)
- Conferência (Jitsi/Mumble)
- Office (cryptpad/Gobby)
- Vídeo (peertube/mediagoblin)
Como não temos recursos para emancipar todo o conjunto da classe, a estratégia é selecionar os elementos e organizações com maior capacidade de avançar com a mudança. Compreendo que o primeiro apoio seria para militantes e organizações da classe, especialmente marxistas, para empoderá-los, pois são mais rigorosos no enfrentamento capitalista.
A Brigada manterá um webblog com elaboração de artigos para capacitação da classe trabalhadora com canais de suporte, bem como hospedagem de serviços para organizações e militantes que não tenham condições de promover auto-hospedagem. A saber: arquivos, e-mail, xmpp, vídeos, calendário, contato e notas e rede social.
Por fim, propomos realizar oficinas em organizações de trabalhadores e instituições públicas, especialmente em escolas, para promover o software livre, bem como ajustar a instituição ao uso exclusivo de TIC's livres, modificando, por exemplo, seu regimento, plano político e infraestrutura física (laboratórios e etc).
O financiamento da Brigada Digital será por meio de doações de apoiadores, comercialização das ferramentas, implementação e suporte de serviços, capacitações, e, por fim, financiamento público de projetos via editais de desenvolvimento da economia solidária, educação e cultura.
Concluindo, essa é a ideia para o desenvolvimento das condições de emancipação da classe trabalhadora diante da exploração proprietária. Estou aberto a sugestões e críticas.
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Licenciado em Ciências Sociais
Administrador de Sistemas
xmpp: bio en brigadadigital.tec.br
Jami: biodigital
Tox: B390113C03A1B7A5A6993CADF280AA52019AB0D670746C8C66A17439BB88C45B1D432C5025A2
Scuttlebutt: @Kg7shGEXCRPJfUStTUDvJb8SC0M9ELBxId09qv6bf+U=.ed25519
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------------ próxima parte ------------
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