Alexandre Oliva <lxoliva@fsfla.org>
Publicado na trigésima edição, de setembro de 2011, da Revista Espírito Livre.
Não sei se o patrão vai gostar de saber, mas... não sou exatamente um fã de certificações, por duas razões: são uma forma de externalização de custos e não são suficientemente analógicas. Explico.
No meu tempo (que foi, não tá vendo meus fios de barba brancos?), quando uma empresa queria contratar um profissional, pedia currículos, fazia entrevistas e provas para escolher os que tivessem maior potencial, para então encaminhá-los ao treinamento, onde aprenderiam a operar os artefatos e ferramentas necessários para o trabalho que ali desempenhariam.
Avaliar currículos, preparar e corrigir testes, entrevistar os candidatos e depois treiná-los são despesas, antes arcadas pela empresa contratante. No afã de maximizar lucros, uma das medidas mais comuns é externalizar os custos. Exames vestibulares e outros concursos públicos, por exemplo, costumam cobram taxas para pagar o processo de seleção de candidatos, mas dá pra fazer “melhor”. Que tal o candidato pagar pelo próprio treinamento e pelo processo de avaliação sobre suas habilidades para a vaga pretendida e ainda ficar feliz com isso? “Mãos à obra!”, vibra o empregador, apontando o proponente da ideia e erguendo o polegar em sinal de aprovação.
Mas será tão bom assim? Considere a questão: dados dois profissionais com as mesmas certificações, pode-se concluir que os dois terão desempenho igual nas mesmas tarefas técnicas relacionadas ao tema da certificação? É óbvio que não, há diferenças individuais de desempenho, interesse, flexibilidade, habilidade de comunicação e outras tantas que nem dá pra listar aqui. Essas tantas, o processo de seleção continuará tendo de avaliar para separar o joio da joia.
Além disso, as certificações, por questão de mercado, tendem a ser ao mesmo tempo amplas e engessadas. A busca por um profissional com determinada habilidade específica raramente encontrará numa certificação uma cobertura perfeita. Uma certificação mais específica limitará o número de candidados disponíveis, excluindo profissionais capacitados, mas que não tenham se submetido ao processo de avaliação. De outro lado, uma certificação mais ampla que cubra essa habilidade específica, entre outras, pode aprovar e tornar indistinguíveis um candidado perfeito e um que domine outras habilidades, mas que seja péssimo na pretendida.
É aí que entra a brincadeira do título: as certificações em geral têm resultado binário, o digital mínimo. Para melhor servir aos profissionais de recursos humanos, seria mais conveniente que atribuíssem resultados mais analógicos a cada habilidade avaliada. Mas aí, será que os candidados a certificações, que já lhes dão uma mão arcando com esse custo externalizado, pagariam os olhos da cara pela chance de sair melhor na foto (digital?), com o risco ter suas fraquezas apontadas (com o indicador?) a potenciais contratantes? Ou perceberiam que essa terceirização e externalização de recursos humanos é uma forma de lhes enfiar o dedo nos olhos e a mão no bolso, e dariam um basta para, digamos, anular esse processo? Não se faz necessário mais que um polegar para baixo... ou um dedo médio em riste :-)
Meu conselho? Ponha os olhos na tela, os dedos no teclado e as mãos na massa com um projeto de Software Livre! Apareça bem na foto do projeto, deixe transparecer o seu trabalho para todo mundo ver seu currículo mais valioso e será um candidato de mão cheia. É certo que também vai investir recursos próprios assim, mas além de enriquecer o currículo com experiência publicamente verificável, contribuirá para a humanidade. Eu não certifico que funciona, pois não acredito nessas coisas, mas comigo funcionou, mesmo sem querer, então ponho a mão cheia de dedos no fogo e “agarântio”, pois ¡la garantía soy yo! Quem quiser tentar igual, põe o dedo aqui!
Copyright 2011 Alexandre Oliva
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Last update: 2011-10-11 (Rev 8123)