Ontei fui ao Campus Party, em São Paulo. Tinha duas palestras para apresentar. Alguns dias antes, conferi a programação e fiquei um pouquinho aborrecido com pequenas alterações no resumo de uma das palestras e no título da outra, mas perceber depois que censuraram resumos e um título foi um pouco demais! Só não sei se reclamo ou se agradeço pela oportunidade de testar o efeito Streisand...
O resumo que mandei para a palestra “Sexo, Drogas e Software: Filosofando nas Trincheiras entre o Bem e o Mal” foi:
Usuários de software privativo são vítimas de estupro, de pedofilia ou apenas gostam de sacanagem? Ficam impotentes quando tentam abandonar o vício? Será que os traficantes de software privativo, pedófilos e estupradores de usuários, vão algum dia achar que exageraram no gozo do poder? Temas pesados discutidos explicitamente, com pitadas de humor levemente apimentado. Não recomendado para menores de XXX anos.
Na programação, já com o evento em andamento, o “XXX” que pus de brincadeira tinha virado um “18”. Adulteraram o resumo! Até brinquei, na palestra, que não havia escrito assim no resumo, mas depois alguém veio me contar que, na programação, não havia nada nem parecido escrito. Surpresa! Depois que olhei a última vez, o resumo foi quase inteiramente reescrito. Deixaram assim:
Uma polêmica – ainda que curiosa – palestra a respeito das razões pela qual os usuários se mantêm ligados a softwares privativos e a postura da indústria. Temas pesados discutidos explicitamente, porém com muito bom humor.
Vá lá, termos fortes demais podem ter gerado algum desconforto em algum burocrata ou patrocinador. Argumento plausível até eu notar o que aconteceu com a outra palestra! Para “Demonizando Monopólios Intelectuais: ao Povo o que é do Povo”, mandei como resumo:
Convenceram autores, inventores e o público em geral de que direitos autorais e patentes são imprescindíveis para remunerar autores e inventores. Vamos denunciar essa falácia, mostrar que ela tem prejudicado os autores, os inventores, a sociedade, a cultura, a ciência, a tecnologia, a economia e as próprias editoras e indústrias, que por essas leis são induzidas a modelos de negócios falidos e anti-sociais. Pelo povo (demos, em grego) substituamos direito autoral e patentes por “copyleft”.
O título publicado na programação na véspera dizia apenas “Dissecando Monopólios Intelectuais”. Corretor ortográfico pifado, pensei... Mas, depois do toque, fui conferir o resumo, e descobri que também foi reescrito:
Baseados em modelos tradicionais, autores, inventores e o público em geral ainda estão apegados à noção de que direitos autorais e patentes são imprescindíveis para remunerar autores e inventores. A palestra mostrará, por meio de um exame em profundidade, que o modelo mais prejudica do que ajuda até mesmo a indústria e lançará luz sobre modelos de negócios mais atuais e igualitários.
Algo que era pra ser “delicado como a minha pele” (que não é nada delicada) ficou insosso que até dói. Lamentável...
Gostaria de uma explicação da organização do Campus Party por esses atos arbitrários de censura, sobre os quais sequer fui consultado. Será que tem algo a ver com os patrocinadores Microsoft e Totvs, ícones do software privativo, que se infiltraram em painéis ao redor da área de Software Livre? Será? Aguardo esclarecimentos!
Até blogo...