Há um ano, venho escrevendo na Revista Espírito Livre. Quando João Fernando me convidou para uma coluna, fiquei meio receoso. Eu tinha razão: é sempre um sufoco, uma correria quando ele me avisa que está fechando a edição e eu, invariavelmente, ainda não terminei (às vezes, nem comecei) a coluna. Agradeço pela paciência, pela tolerância e pela confiança que nem eu ousei depositar em mim.
Neste momento, em que lançamos sua décima-terceira edição, comemorando o primeiro aniversário desse nosso trabalho juntos, eu olho para trás e fico muito feliz de quanto conseguimos, de como a revista só faz melhorar, crescer e levar a tanta gente o conhecimento sobre o Software Livre e, mais importante na minha opinião, a consciência sobre Liberdade de Software, sobre os valores éticos e sociais que norteiam o movimento.
Foi fantástico ter essa ótima desculpa mensal para consolidar em palavras as ideias e pensamentos que se me apresentavam antes de cada edição, cada qual especial para mim, pelo que as relembro neste momento de celebração:
Síndrome de Peter Pan Digital sobre o pessoal que não quer crescer e se tornar responsável pelas próprias decisões, preferindo viver na Terra do Nunca do software privativo. O tema da capa foi Computação em Nuvem.
A Isca, o Anzol e a Grande Rede, explorando o tema da edição anterior, revê os diversos tipos de anzóis que vêm escondidos no software privativo, e alerta para as novas formas de captura de usuários na Internet. “Caiu na rede, é peixe!”, como digo na palestra inspirada nesse artigo. O tema desta edição foi distribuições leves de GNU/Linux.
Um por todos, todos por um! filosofa sobre os monopólios artificiais do cada um por si, em contraposição à ao famoso lema de união, colaboração e solidariedade e fraternidade do famoso trio de quatro mosqueteiros e das Wikis, o tema da capa.
Tron: Jogando por Liberdade pega carona no tema daquela edição (Jogos) e resgata um ícone dos jogos eletrônicos, o super-herói digital que lutava pela liberdade dos programas e dos usuários de computadores.
Desktop Livre lembra da importância do Movimento Software Livre e do projeto GNU para que tenhamos Desktops Livres (o tema da edição), como GNOME e KDE, e chama atenção a ameaças a essas liberdades, como as patentes por trás do Mono e o software privativo exigido por diversos cartões de vídeo.
Livre, Afinal! comemora e divulga o computador portátil Lemote Yeeloong, primeiro projetado para rodar com Software 100% Livre até na BIOS, que ganhei de uma empresa venezuelana que vai montá-los e vendê-los na América Latina. Tem até webcam embutida, 100% funciona, enquadrando-se (não sem algum zoom no foco em Edição de Vídeo.
Software Privativo é Falta de Educação!, na edição sobre Software Livre na Educação, reúne pensamentos de por que instituiçõe de ensino não devem usar software privativo, com diversas recomendações de Software Livre para professores, pais e alunos.
A Distopia do Remoto Controle olha para diversos processos judiciais relacionados a patentes e aponta um futuro negro para aqueles que continuarem cedendo o controle remoto de seus próprios computadores para empresas que podem, por medo de processos ou por ordem judicial, acabar puxando o tapete de seus clientes, como já fizeram e tiveram de fazer Amazon e nVidia, respectivamente. Nada a ver com o tema da capa, Comunidades e Movimentos Livres.
Perigo Virtual e Imediato desafia a condenação, no Paraná, de um distribuidor de software P2P, baseada em interpretação distorcida da lei de direito autoral. Com alguma boa vontade, redes P2P são um dos vários tipos de Redes Sociais, o tema da edição.
Mistérios de e-Lêusis, na edição dedicada à Diversão Livre, inaugura a série Mitologia Grega, desmistificando a crença na segurança por obscuridade adotada pela Receita Federal do Brasil, denunciando seu analfabetismo digital e o daqueles que seguem esse credo.
Ah!, a Falta que Ela Faz reacende o debate sobre a exposição de informação pessoal no lançamento do Google Buzz, discutindo a confiança exagerada e a falta que ela faz aos provedores desses serviços. Na mesma edição, fugindo ao tema de Computação Gráfica, também saiu a entrevista FLISOL na cabeça!, convidando à participação, à promoção dos valores do Movimento Software Livre nesse mega evento latino-americano.
Guerra de Tróia retoma a série de Mitologia Grega, lembrando que nem tudo que se recebe de presente é benéfico, e que há muito presente de grego sendo aceito por órgãos públicos, expondo o estado e a população a riscos e prejuízos. Vários dos presentes de grego são oferecidos não como software, mas como serviços, prestados através da Internet, negando a Liberdade na Rede, tema da capa.
Minotauro, na edição de aniversário sobre o GNU, reabilita essa criatura, metade movimento humanitário, metade projeto tecnológico, que conhece a saída do labirinto, mas é demonizada pelos poderosos para que o resto do rebanho não escape ao seu controle. Para a mesma edição, tive a honra de entrevistar o pai do GNU, o hacker Richard “Dédalo” Stallman, e um dos atuais líderes do projeto, Brian Gough.
Só tenho a agradecer ao João Fernando e aos muitos colaboradores regulares e ocasionais da revista por me permitir chegar perto desse bolo, que fizemos juntos, para dar uma assoprada na vela. Tenho certeza de que, num piscar de olhos, ela estará novamente acesa, levando luz e liberdade aos nossos leitores e que, com o vento de nosso sopro nas velas içadas, nossa aventura vai chegar a terras e mentes nunca antes navegadas! Muito obrigado por me levar a bordo!
Até blogo...